há já algum tempo alguém me perguntou qual é o teu maior desejo?
respondi de xofre "continuar a desejar"...
tenho sido bafejado pela sorte,
tenho feito tudo o que quero,
tenho sofrido na pele o não ser certinho, o não ser politicamente correcto, o dar a cara por supostos amigos/amigas que pouco tempo depois dizem de mim o que Maomé não disse do toucinho... é a única coisa que me magoa mesmo a ingratidão, essa sim, pode também doer-me a injustiça, mas a ingratidão porra essa doi mesmo.
tenho, de certeza que tenho uma aura, um karma, um anjo que me ajuda a dar a volta...
sou um optimista, acredito piamente que mesmo a perder 0 a 3 a cinco minutos do fim o glorioso ainda vai dar a volta...
mas efectivamente além de a ingratidão me tirar do sério, tento combate-la com o "continuar a desejar".
nos dias em que me aborrece estar no escritório, ir ás repartições, falar com pessoas...
nos dias em que só me apetece estar sozinho sem ninguém humano por perto, lá no meio de uma paisagem verde, com um tempo de cacimba com um cão grande por perto, sem coleira nem açaime - sinto a falta de um cão,mas vivo na ditadura de três gatos...,
quando estou assim desejo algo, uma viagem normalmente para não dizer exclusivamente...
há tantos sítios para ver... tantos sítios para visitar, normalmente longe misteriosos de difícil acesso, estou a lembrar-me assim de repente de dois ou três daqueles longe bem longe ... Ilha de Pascoa, transiberiano de - Moscovo a Vladivostok - (se não for esta a grafia desde já me penitencio) mas também já meti na cabeça fazer os caminhos de Santiago desde cá de baixo deste torrão, desta vila algarvia onde aportei até lá acima sempre a pé andar na procura de algo mas principalmente do aconchego da solidão , das conversas comigo mesmo, não sei se isto é sintoma de algo grave ... :) mas sou o meu melhor ouvinte o meu melhor confidente, aquele a quem posso confidenciar as minhas magoas, os meus anseios as minhas duvidas..., mas também as minhas alegrias.
pois quero "continuar a desejar" viver intensamente , não precisa de ser muito, desde que seja intenso, por isso corro, salto etapas, fecho e abro ciclos, que me importa poder ter uma longevidade cheia de mazelas e arterites só pelo facto de continuar por cá? prefiro algo curto e intenso a outro algo longo, bocejante e sem sabor...
não, não estou a fazer o meu testamento, estou só a discorrer neste domingo de céu cinzento triste, a matar o tempo morto com os dedos a deslizar pelo meu teclado sem ter a certeza se quando chegar ao fim selecciono estas letras que juntas fazem palavras, que palavras a seguir a palavras as vezes fazem frases, as vezes conseguindo dar um sentido aquilo que passa cá por dentro as vezes não.
enfim...
até já